quarta-feira, 25 de maio de 2016

Aspectos linguísticos e cognitivos da leitura (Págs. 3 até 6) /
Grupo: ConjunTão ANTInominal

Maity Siqueira*
Márcia Cristina Zimmer**

Introdução

Aprender a ler, a princípio, significa aprender a decifrar o signo, o código (ou seja, o conjunto de sinais como letras, palavras e suas relações ao longo de um texto). A decodificação é a primeira etapa do processo de aprendizagem de leitura e consiste na capacidade que temos, quer seja como aprendizes de uma língua ou leitor-escritor, para associarmos um signo gráfico a um nome ou a um som da língua. Os processos iniciais que dizem respeito à decodificação e à compreensão de palavras são indispensáveis na iniciação à leitura. No primeiro ciclo do ensino fundamental, esses processos devem ser automatizados e, portanto, bem assimilados, para que o leitor possa passar ao outro nível da leitura, o “ler para aprender”.
Ler para aprender acontece quando o processo de decodificação fica automatizado, e então o leitor começa a atribuir um sentido àquilo que lê. A partir disso, o leitor pode adquirir novos conhecimentos por meio da leitura. O indivíduo que não alcança o estágio de ler para aprender apresentará bastante dificuldade para viver em um universo de aprendizagem altamente letrado.
A leitura requer o envolvimento do leitor, o texto, a interação entre leitor e texto, o conhecimento prévio (conhecimento de mundo e conhecimento linguístico do leitor) e o processo de compreensão da informação que envolve aspectos cognitivos e a informação dada pelo texto.

Compreensão em leitura, conhecimento prévio e memória

A compreensão, que é considerada como o objetivo principal da leitura, pode ser definida como um processo de construção do significado a partir das experiências do próprio leitor, à medida que lê o texto original. Goodman (1991), um estudioso da língua, define esse processo de compreensão em leitura como "texto duplo". Essa noção vem quando duas pessoas de vivências diferentes (um médico e um jardineiro, por exemplo), ao lerem o mesmo texto sobre flores, terão compreensões diferentes, visto que cada um tem a sua participação na construção do sentido do mesmo. Poersch e Amaral já dissertaram acerca da inclusão e da importância das estratégias integradoras. Estas estratégias unem os aspectos ascendentes (bottom-up) – que defende a tese de que o significado reside no texto em si – e os descendentes (top-down) – que enfatizam a interpretação e o conhecimento prévio que o leitor tem sobre o assunto que está lendo e, principalmente, a predição ao longo do texto – tornando a leitura algo realizado no próprio processo de ler. Deste modo, dois processos básicos constituem a fluência na leitura: o de decodificação e o de compreensão linguística.
Para alcançar a proficiência, os leitores precisam aprender a lidar com esses dois processos, de tal forma que o primeiro se torne automatizado e inconsciente (porque este é algo adquirido, e, portanto, deve ser estimulado) para que a atenção possa priorizar o processo de compreensão (algo já natural desde a infância).
Na decodificação de palavras por crianças em fase de letramento, destaca-se a importância da sua automatização, principalmente pela capacidade limitada da memória de trabalho. Esta, por sua vez, é responsável pelo armazenamento e processamento simultâneos da informação decodificada.
No vídeo abaixo, confira como está e como funciona a sua memória de trabalho também conhecida por algumas fontes como memória de curto prazo:


Não conseguiu lembrar os 10 dígitos? O negócio está feio ein! Mas não se preocupe, você não é o único! A maioria das pessoas não consegue fazer isso. Pesquisas conduzidas por Perfetti e Hogaboam (1978) apontam para uma intensa relação entre a compreensão e a capacidade de decodificação mais rápida. Um leitor que lê rapidamente um texto consegue ocupar um espaço menor na memória de trabalho, que será utilizado para pensar no significado do que é lido e analisar a mensagem do mesmo.
Segundo Perfetti, três fatores influenciam na velocidade de decodificação de palavras:
·         Palavra vocalizada ou percebida visualmente
·         A experiência do indivíduo com as palavras que lê
·         A capacidade de memória de trabalho
Aprimorando estas habilidades, o leitor passa a “ler para aprender”, ao invés de “aprender a ler” (Oliveira, 2004).

Leitura e construção do conhecimento

A leitura contribui grandemente para a construção do conhecimento que está sempre aumentando e mudando. À medida que lemos, criamos automaticamente expectativas sobre o que está por vir no texto (predição). Esta capacidade varia conforme os conhecimentos prévios do leitor. As previsões podem ser confirmadas ou não; isso irá depender mais do gênero textual que o leitor dispõe e também do autor do texto. Numa tirinha, por exemplo, as previsões do leitor geralmente são quebradas no final, sendo que num conto narrativo como uma fábula, isso pode ocorrer ou não.





Como os conhecimentos prévios são únicos, cada indivíduo irá compreender um mesmo texto de maneiras diferentes, de acordo com sua subjetividade, caracterizando o texto com um processo eminentemente ativo. Assim sendo, o leitor acaba se tornando coautor do texto à medida que sua singularidade está contida na compreensão do mesmo.
 A leitura é ainda, atividade por parte do leitor proficiente que interage em múltiplas relações com o texto durante a sua construção de sentido através da utilização de diversas estratégias que estabelecem esta relação (Zimmer et al., 2004,p.105).

Em tese, verifica-se que o processamento da leitura depende de diversos fatores cognitivos, mas, mais importante do que isso, são os aspectos motivacionais (os objetivos que levam o leitor a optar por determinado tipo de texto).

Conclusão

A partir desta análise, fica claro que além dos aspectos cognitivos e linguísticos, é necessário atentar-se aos motivos (conscientes ou inconscientes) que incentivam a leitura. Estes motivos variam do interesse próprio do indivíduo à obrigação de ler para responder questões de um exame, por exemplo. Cada leitor, de acordo com seus critérios classifica uma obra de diferentes maneiras.
Tratando-se da leitura, a mesma pode ser prazerosa ou não. É errado dizer que a juventude atual não se interessa por leitura, já que inúmeros exemplos desmistificam tal fato. O que é necessário rever são: a seleção de obras e abordagem feita na disciplina específica.
Finalizamos com uma frase do texto original importante para a nossa reflexão:
“Um maior conhecimento sobre os aspectos
linguísticos e cognitivos por parte dos professores pode
levar a práticas inovadoras na forma como se lida com a
leitura na escola, seja na fase inicial, em que o aluno
aprende a ler, seja na fase proficiente, em que o aluno lê
para aprender.”


Referência

SIQUEIRA, Maity; ZIMMER, Márcia Cristina. Aspectos linguísticos e cognitivos da leitura. Revista de Letras, nº. 28 – vol. ½ - jan/dez, 2006.




3 comentários:

  1. O leitor interpretara um livro ou texto de acordo com seu conhecimento, quanto mais conhecimento este leitor tiver mais compreensão ele terá da obra que esta lendo, do mesmo modo é o sentimento que atribuímos quando lemos, o que definira se uma obra é prazerosa ou não é o sentimento do leitor enquanto se dedica a esta leitura, porem independente do sentido que atribuímos ou o sentimento que nos envolve durante uma leitura, nunca devemos ignorar o sentido e sentimento atribuído pelo autor a obra.

    Por: Renata Batista Leite

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  2. O teste é interessantíssimo!!! O texto é bem resumido, faz ótima abordagem do tema leitura, ele também deixa explicito que a leitura se dá em duas formas, sendo uma em que aprendemos a ler e outra em que lemos para aprender, e faz todo sentido, afinal o que buscamos em uma boa leitura? Digamos que ler é um desafio, pois quantas coisas podem advir da leitura!!! Se torna ainda mais interessante ao descobrirmos que os textos se baseiam em estratégias, parece provocação, é como se eu estivesse sendo convidada à investigar os mistérios da leitura. E não deixa de ser, pois o leitor também é estrategista e utiliza suas armas(conhecimento enciclopédico, conhecimento linguístico). Nesse jogo da leitura não existe UM vencedor, ganha o autor quando com seu texto coeso e coerente consegue passar toda informação desejada, ganha o leitor, que amplia vocabulário, aprende com essa leitura e ainda se diverte!
    Por: Só-Letrados

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  3. Para haver uma boa compreensão do texto é importante que o leitor tenha conhecimento linguístico, interacional, fazendo junção com seus conhecimentos prévios para dar sentido ao texto.

    Por: Teoria dos Letrados

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