sábado, 27 de maio de 2017

O USO DA TECNOLOGIA PARA O ENSINO DE LITERATURA: PRINCÍPIOS E ADAPTAÇÕES

Vivemos numa sociedade que se alimenta da circulação da informação, nomeadamente da informação escrita e visual, e que distingue os seus membros pelos seus níveis de acesso, bem como de capacidade de uso dessa mesma informação. Naturalmente, atribui-se às capacidades de compreensão e de produção da escrita um interesse cada vez mais proeminente e ao visual, algo de rápida decifração e compreensão daquele que o vê. O ensino da Língua Portuguesa na área da literatura deverá desempenhar um papel crucial neste contexto devido as grandes dificuldades que hoje se encontram perante ao seu conhecimento. Quem nunca ouviu em uma aula de literatura, colegas de sala pronunciarem as seguintes frases:
 “Que livro chato, professora”.
“Eu não estou entendo o que ele está dizendo”.
“Isso aqui é Língua Portuguesa mesmo, professora? Não parece”.
A literatura acaba sendo relegada a um segundo plano pelas dificuldades inerentes ao seu ensino, ou seja, os textos de época, antigos, não atraem os alunos de hoje, que passam a perceber erroneamente a literatura como uma atividade maçante, totalmente desvinculada de seu mundo e de seus interesses, sejam eles quais forem. Apesar das dificuldades, que são muitas, o professor de literatura não pode simplesmente ignorar conteúdos fundamentais na formação do estudante, tanto no plano do conhecimento como na sua consequente humanização através dos textos literários, cabe assim buscar alternativas para tornar este ensino mais atraente a todos os alunos em sala e não simplesmente desistir de realizá-lo.
Primeira questão: verificarmos como a literatura vem comumente sendo trabalhada dentro de uma sala de aula. Apesar de todas as discussões acadêmicas já feitas até então, ainda predomina o ensino historiográfico e fragmentado, tendo como enfoque a preparação para o vestibular “temeroso” vestibular. Assim, estuda-se a sequência periodológica da literatura portuguesa, para depois estudar-se a brasileira e etc. O trabalho é voltado mais para o conhecimento da escola literária que propriamente da literatura, ou seja, o texto em si fica num segundo plano. Memorizam-se as características do período literário, usando-se fragmentos de textos em que eles transparecem, e alguns dados sobre o estilo de um determinado autor da escola literária em que se investe nos estudos, quando não meramente biográficos e altamente superficiais.
Podemos partir de uma primeira premissa e reflexão a ponto de se perguntar: qual a relevância desse conhecimento para o “temeroso” vestibular que o aluno irá prestar? Os vestibulares das melhores universidades do país trazem conteúdos sobre as obras literárias, mas não da forma como, em geral, vêm sendo ensinado a literatura nas escolas brasileiras. Outro problema é o modo como os professores trabalham a lista de obras de leitura "obrigatória", ao tentarem fazer com que seus alunos leiam resumos que pretensamente substituiriam a leitura integral das obras literárias. Seria o correto? Não, pois tal resumo não supre as necessidades reais dos vestibulandos nem tampouco se constitui verdadeiramente em aprendizagem de uma obra literária ou da literatura em si.
Para melhorar e aprimorar o ensino da literatura nas escolas do século XXI, será necessário remodelar o profissional da área, ou seja, os professores e os seus contatos com os meios tecnológicos. Fazer uso da tecnologia na educação já é uma necessidade inadiável, reconhecida por todo profissional do ensino que anda atualizado com as últimas tendências sobre o assunto. Dito isso, no entanto, quanto ao ensino da literatura, é preciso se dar conta de que a forma com que esse recurso deve ser empregado em sala de aula nem sempre é tão claro. Usar ferramentas tecnológicas na escola, como fim em si mesmas, não é bem o objetivo, de acordo? Sendo assim, vale a pena pesquisar e experimentar para descobrir de que maneiras a tecnologia pode ser empregada para melhorar efetivamente o aprendizado dos alunos e o dia a dia dos professores quanto ao ensino da arte literária.
O grande desafio consistirá em transformar leitores digitais semânticos em leitores críticos. Não bastando apenas fazer com que os alunos decifrem o que estão lendo, mas principalmente consigam ser capazes de identificar a construção, a ideologia e a intertextualidade de cada obra por meio de um recurso comum como o computador, celular, tablete e o fácil acesso à internet. Ao invés de limitarmos à apresentação cronológica das escolas literárias por meios tradicionais (quadro negro e livros físicos), devemos aproximá-las ao estudante através do que se é comum terem em suas mãos. Dando-os autonomia e espaço com uma abordagem temática, escolhendo assuntos como amor, sociedade, identidade, política e até mesmo a própria pátria a serem discutidas por entre uma escola literária e outra e/ou obra de um determinador poeta. Visto que tais temas são os mais comuns por entre os jovens de hoje em dia, com roteiros de leitura, aulas inteiras incentivando a participação e a discussão dos temas entre os alunos que serão conduzidos por um profissional que sabe lidar com estes recursos.
Deste modo, através da literatura trabalhada em sala de aula com o uso da tecnologia, o aluno deverá aprender a usar a linguagem, a defender-se da linguagem, a interagir através da linguagem, a intervir com os outros por meio da linguagem com o uso da literatura. Este será o domínio, no ensino da literatura, para o sucesso noutras áreas/disciplinas e, no futuro, para a integração na vida, pois por meio dela, seremos capazes de fazer um ser humano mais humano.

(Grupo: Literatos Modernos – Victor, Guilherme, Ísis e Eliézer)






REFERÊNCIAS:
MINISTÉRIO da EDUCAÇÃO – Organização curricular e programas – 1.º Ciclo do Ensino Básico. 2ª ed. Lisboa: Ministério da Educação/Departamento da Educação Básica, 1998.

MINISTÉRIO da EDUCAÇÃO – Ensino Básico. Competências gerais e transversais. Lisboa: Ministério da Educação/Departamento da Educação Básica, 1999.

SILVA, L. M. – Estratégias de ensino e construção da aprendizagem na especificidade da disciplina de Português, Língua Materna. In Caminhos da flexibilização e integração – políticas curriculares. Actas do IV Colóquio sobre questões curriculares. Braga, Universidade do Minho/Instituto de educação e Psicologia, 2000.

3 comentários:

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  3. O texto é bem interessante e aborda o tema do ensino da literatura nas instituições de ensino brasileiras de uma maneira bastante realista. Infelizmente sabe-se, como foi dito no artigo, que muitos professores abordam os temas literários de forma demasiadamente conteudista, superficial. A essência da literatura, que é retratar e fazer os seres humanos pensarem sobre os próprios seres humanos, vem sendo deixada de lado. Preocupa-se muito com o ensino focado para determinados vestibulares, no entanto, não se está percebendo que mesmo as provas estão se modificando e trazendo à tona temas reflexivos que retratam o mundo tal como ele é e exigem que o aluno, com base na literatura, defenda sua opinião ou mostre o que, de fato, foi aprendido (em questão de conhecimento e sabedoria e não meramente acúmulo de informações que, com o tempo e outros afazeres, perdem-se). Lamentável é saber disso, mas mais lamentável ainda é não fazer nada para que a situação seja modificada. Para isso, faz-se necessário que os professores tenham capacidade de inovar, ampliar os seus horizontes para ampliar a visão de mundo de seus alunos. A missão de ser professor não é nada fácil em pleno século XXI, onde há tanta tecnologia, tantos recursos e, em contrapartida, pouca utilização de tais ferramentas para promoção do conhecimento de maneira interativa e edificante. O texto foi bem elaborado e evidencia com sensatez a necessidade urgente que todos os grupos que postaram nesse blog procuram suprir: a necessidade de fazer a fórmula "escola + tecnologia" ser igual ao "conhecimento e sabedoria no âmbito literário".

    Por: Garrettilianos da Educação

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